Nós, do Comitê de Mudanças Climáticas e Patrimônio, gostaríamos de manifestar nossa dor e profunda tristeza pela tragédia enfrentada pelos moradores e turistas do Litoral Norte de São Paulo. É preciso destacar que a quantidade de chuva ocorrente na região no último sábado (19) não foi um fenômeno isolado ou obra do acaso natural. Por conta do seu volume, as chuvas no Litoral Norte, incluindo a costa verde do Rio de Janeiro, vêm chamando a atenção dos estudiosos do clima desde setembro de 2022 e são classificadas por nós como parte dos eventos climáticos extremos. Junto a elas, temos o aumento mensurável do nível do mar, a mudança nos ciclos de vida e desaparecimento das plantas e dos animais, e, como vimos, os imensos deslizamentos de terra, cada vez mais constantes.
Desde dezembro do ano passado, a Defesa Civil de Ubatuba vem divulgando alertas sobre os riscos de desastres.
Cabe destacar que as comunidades tradicionais da região (indígenas, quilombolas e caiçaras) sofrem há anos com os eventos climáticos extremos e ainda não estão recebendo alertas.
As estradas já vinham sofrendo interdições em alguns trechos e operações especiais por conta do risco. Infelizmente, o que assistimos foi a incapacidade dos órgãos dirigentes, em ambas esferas públicas, de gerenciar o risco, por inúmeros fatores, desde ausência de investimento em sistemas de monitoramento à implementação de ações preventivas.
Torna-se urgente repensar nossa relação com o planeta e com a gestão do risco para melhorarmos nossa capacidade de resposta aos eventos climáticos extremos, como o do Litoral Norte de São Paulo, a exemplo do que os povos originários tem feito a séculos. É necessário destacar que o evento não foi único ou isolado, apesar de todas as vidas ali afetadas e perdidas, todas histórias ali construídas, serem absolutamente singulares e irrecuperáveis. Vidas também foram perdidas em 2020, no Litoral Norte de Santa Catarina; em 2021, no Sul da Bahia; em 2022, em Petrópolis; e, agora, em 2023, no Litoral Norte de São Paulo. Não podemos esperar mais! É preciso uma nova gestão do risco, da vulnerabilidade e de nossas capacidades de resposta ao novo cenário climático. A ação é imperativa. A gestão de risco, que valoriza a complexidade de cada um dos cenários, será crucial para a vida e, como não poderia deixar de ser, para os patrimônios e nossas histórias neles contadas.
Reafirmamos nosso compromisso com a construção destas políticas públicas do clima e nossa solidariedade a todos que enfrentaram e enfrentam um evento climático extremo.
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